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(A)PÓS_APÓS | 2024 |Exposição

 

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Vista exposição ªaSede , Porto
Fotografias por Yasmine Moradalizadeh 



 



Texto de Eduarda Neves 

 

a matéria que inventa o mundo

 

Uma pessoa acha-se a si própria e não sabe o que fazer com isso

(Peter Sloterdijk)

 

Enquanto prática auto-referencial que enuncia a densidade da memória e um contínuo estranhamento, é a perturbação do sentido constituído de si mesmo que a gestualidade e as marcas pictóricas em estado bruto convocam nesta exposição. Configurando esse lugar incerto que entre as coisas e no processo se cumpre, a obra realiza-se numa espécie de autopoiesis. Distante da imagem de um eu narcísico ou da ideia de um qualquer eu interior, é a singularidade de uma certa psicogeografia que, integrada no processo de trabalho, adquire um carácter operatório e se instaura neste arquivo em modo de atelier.  Enquanto meio e instrumento de relações simultaneamente abstractas e concretas, arquivo e memória potenciam territórios circunscritos e difusos, o Mesmo que é Outro — em mutação e devir. É a matéria que, repousando no espaço tensional, se converte em deriva interpretativa e reescreve a subjectividade.

 

Neste movimento de uma certa desordem e experimentação, o corpo inscreve-se no espaço-tempo da matéria geológica, afirma-se como instrumento de pesquisa e atmosfera sonora, converte-se tanto em objecto de uma certa deambulação intensiva como em lugar de questionamento do sujeito e dos poderes que sobre ele se exercem.

A representação das identidades — recontextualizadas em novas exterioridades — não deixa de, igualmente, anunciar a soberania e a lei. Um diálogo corpo a corpo. Um combate. Sem a protecção da verdade e funcionando como agente de uma multiplicidade de enunciados que convocam a natureza individual e colectiva, este arquivo em mutação constrói-se sem recorrer a uma fisicalidade espectacular. Através de uma paisagem iconográfica objectivada na forma da instalação, pintura, desenho, filme e objectos, o programa de Angelina Nogueira é marcado por uma invasiva presença mas também uma débil e vulnerável condição.

 

Eduarda Neves

(a autora não escreve segundo o novo acordo ortográfico)



Texto no âmbito da curadoria da  exposição (A)pós_após, 2024




Projeto apoiado pela Direção Geral das Artes

 

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